O presidente da Venezuela, Hugo Chávez,
morreu na noite desta terça-feira, (16h25 no horário local) aos 58 anos,
vítima de câncer. Ele lutava contra a doença desde junho de 2011. Uma
nova infecção respiratória últimos dias piorou o estado de saúde de
Chávez, que fazia tratamento em Cuba. O anúncio foi feito em rede de
televisão pelo vice-presidente venezuelano e herdeiro político, Nicolás
Maduro.
A história política de Hugo Chávez começou
na fracassada tentativa de golpe contra o presidente Carlos Andrés Pérez
em fevereiro de 1992. O episódio deixou 17 soldados mortos e 50
feridos. Chávez, então, fez uma aparição na TV para assumir a
responsabilidade pela revolta. Nascia ali uma das figuras mais marcantes
da história venezuelana, carismática com seus aliados e duro com os
inimigos, alternando palavras doces e atitudes radicais na tentativa de
se equilibrar entre seu lado poeta e a farda militar.
O golpe levou Chávez à prisão, de onde só
saiu dois anos depois pela ordem do então presidente Rafael Caldera. Mas
o tempo no cárcere não foi suficiente para apaziguar o espírito
socialista de Chávez. Logo depois, ele fundou o Movimento V República,
com o qual chegou à presidência pela primeira vez em 1998. Com uma
plataforma que pregava governar para os pobres, conseguiu 56,24% dos
votos e se tornou o mais jovem governante da Venezuela, com 44 anos.
Logo no seu primeiro ano de mandato comandou uma reforma que culminou na
redação de uma nova Carta Constitucional. A partir daí o mundo conheceu
Chávez.
A revolução socialista proposta por seu
governo colocou-o em confronto direto com a elite do país, a ponto de
sofrer um golpe em abril de 2002, em ação liderada pelo líder patronal
Pedro Carmona. O golpe, no entanto, não teve êxito: Chávez ficou menos
de três dias longe do poder e foi reconduzido à presidência apoiado por
militares leais e milhares de seguidores que invadiram as ruas do país.
Passou por referendos e eleições legislativas e presidenciais, vendo sua
primeira derrota nas urnas em dezembro de 2007, no referendo que
pretendia lhe conferir poderes ilimitados.
Polêmico
- Poucos personagens da política mundial foram tão provocadores como
ele. A classe empresarial e seus adversários ideológicos, nacionais e
estrangeiros, não escaparam da sua língua afiada. George W. Bush,
presidente dos Estados Unidos entre 2001 e 2009, foi chamado de "diabo"
em plena sessão da Organização das Nações Unidas (ONU). O venezuelano
também ouviu poucas e boas: um dos episódios mais famosos ocorreu em
novembro de 2007, quando o rei Juan Carlos, da Espanha, mandou-o calar a
boca durante a 17ª Cúpula Ibero-americana, realizada no Chile. "Por qué
no te callas?", questionou o monarca espanhol.
Sua relação com a imprensa também nunca foi
pacífica. Guillermo Zuloaga, presidente da Globovisión que o diga.
Chávez acusou vários meios de comunicação de serem porta-vozes da
oposição e Zuloaga foi seu principal alvo. O executivo foi acusado de
ter insultado o governo do país e de ter divulgado informações falsas.
Acabou preso.
As amizades do venezuelano também irritaram
as potências mundiais, principalmente os Estados Unidos. Chávez manteve
relações próximas com o Iraque antes da invasão norte-americana, com o
Irã de Mahmoud Ahmadinejad e com os colegas sul-americanos Evo Morales
(Bolívia) e Rafael Correa (Equador), ambos apontados como seguidores de
suas ideias socialistas. Seus anos no poder se caracterizaram também
pela difícil relação com a Colômbia, por conta da aliança que os
vizinhos mantêm com os EUA.
Doença
- No dia 30 de junho de 2011, Chávez causou surpresa ao anunciar que
havia se submetido a uma cirurgia em Cuba para retirar um tumor maligno
na região pélvica. O líder venezuelano estava em recuperação na capital
do país, Havana, desde o dia 10, quando passou por cirurgia para remover
um abscesso pélvico. Na época, o governo brasileiro ofereceu tratamento
no Brasil, mas Chávez preferiu seguir com o tratamento em Cuba. Em
setembro daquele ano, ele se disse livre da doença e confirmou
participação na eleição de 2012, marcada pelo Conselho Nacional
Eleitoral (CNE) da Venezuela para o dia 7 de outubro.
No fim de fevereiro de 2012, no entanto,
Chávez teve de voltar a Cuba para retirar um novo tumor no mesmo local.
No mês seguinte, o líder venezuelano começou o tratamento com
radioterapia. Em 9 de julho, faltando pouco mais de três meses para a
eleição, ele anunciou novamente que estava livre do câncer. No pleito de
outubro, Chávez derrotou o rival Henrique Capriles e assegurou um
quarto mandato presidencial, entre 2013 e 2019.
Porém, na noite do dia 8 de dezembro, o
presidente venezuelano anunciou que teria de passar por uma cirurgia de
emergência porque novas células malignas haviam sido encontradas na
região pélvica. Pela primeira vez, Chávez falou sobre a possibilidade de
sucessão e nomeou o ministro de Relações Exteriores e vice-presidente
Nicolas Maduro como seu herdeiro político, caso não conseguisse voltar
ao poder e tomar posse, em março de 2013, para um novo mandato.
Submetido a uma nova cirurgia em 11 de
dezembro de 2012, Chávez não apareceu mais em público e tampouco
conseguiu retornar a Caracas para tomar posse no novo mandato
presidencial, em 10 de janeiro. Numa manobra chavista, o presidente
obteve autorização da Assembleia Nacional - controlada por seu partido -
para se ausentar indefinidamente do país até que se recuperasse, e o
Supremo Tribunal do país avalizou que Chávez não prestasse juramento em
janeiro, podendo fazê-lo em data posterior perante a suprema corte
venezuelana quando estivesse em condições. Após 68 dias de internação em
Havana e diversos relatos de complicações no período pós-cirúrgico, o
governo venezuelano divulgou pela primeira vez fotos de Chávez no
hospital, acompanhado das filhas, numa imagem sorridente em que o
presidente está segurando a edição do dia 14 de fevereiro do jornal
cubano "Granma".
Quatro dias depois, Chávez desembarcou de
surpresa em Caracas, durante a madrugada, e seguiu direto para o
hospital militar da capital venezuelana. Pelo Twitter, o presidente
anunciou: "Chegamos de novo à pátria venezuelana. Obrigado meu Deus!
Obrigado povo amado! Aqui continuaremos o tratamento. Obrigado Fidel,
Raúl e toda Cuba!"
Vida pessoal
- Hugo Rafael Chávez Frias nasceu no dia 28 de julho de 1954 no pequeno
povoado de Sabaneta, ao pé dos Andes no Departamento (Estado) de
Barinas. É o segundo de sete filhos dos professores Hugo de los Reyes
Chávez e Elena Frías de Chávez. Casou-se duas vezes e teve quatro
filhos. Louco pelo esporte mais popular da Venezuela, o beisebol, Chávez
foi campeão com os Criollos de Venezuela em 1969. Também se arriscou na
literatura: é autor de vários contos e poesias.
Em 1971 entrou na carreira militar, em
Caracas e, quatro anos depois, saiu da academia formado em Ciências e
Artes Militares. Nesse período conheceu a história e os feitos do
libertário Simón Bolívar, que o inspirou durante toda sua história
política.